Ela desceu as escadas devagar para não fazer barulho. Ele já esperava por ela. Ela queria lhe dizer o que tinha pensado, mas não sabia se ele compreenderia. Desde o início ficou tão óbvio que eram tão diferentes. Que suas crenças eram tão antagônicas. Ela queria lhe dizer que iria sentir muito a sua falta quando finalmente partisse. E o dia da partida estava chegando.
Ela sentiria falta da respiração dele, daquela respiração serena que a fazia lembrar da doce melodia de pinheiros. Daqueles olhos verdes dos quais lágrimas vertiam feito folhas macias a forrar o chão de uma frondosa floresta. O peito dele era uma floresta de onde a vida brotava carinhosa. Ela gostaria de deitar naquele peito e descansar em sua maciez doce e tentadora.
Ela sorriu para ele. Ele pediu que se aproximasse. Ela se sentou na beira da cama. Olhou sobre a blusa dele a marca do machucado do começo do mês. Ele estava curado. Já podia voar como um pássaro livre de volta ao lar.
O lugar dele não era ali. Ele precisava ir. Ela mordeu os lábios e sorriu quando ele lhe contou alguma coisa boba sobre o que tinha descoberto no livro que ela esquecera no quarto.
Ela estava mais quieta que de costume, estava tímida pela tentação de querer ele só para si. Por desejá-lo como nunca desejara antes. Ele estendeu-lhe a mão. Ela lhe entregou os dedos. Ele lhe entregou o livro. Dentro do livro ela encontraria muitas das respostas as quais havia buscado por tempos.
Ele disse que havia gostado da escritora. Ela amava aquela senhora. Queria se possível um dia conhecê-la. Ele notou que o olhar dela estava diferente. Ele sentiu a respiração dela ofegante cortando o ar. Esmiuçando o silêncio como fogo transformando papel em cinzas. O livro já tinha queimado em suas mãos.
Ela desejava. Não conseguia pensar em mais nada. Ele desejava também e entendeu que teria que dar o primeiro passo para libertá-la das suas amarras. Ele a puxou para si. Ele a segurou entre seus braços. E ela pensou que estava em um paraíso com cheiro de manhã.
Ele beijou sua boca doce. Bebeu dela como se bebe de uma fonte terna. Com carinho e delicadeza. Ele voaria, mas não sem antes libertá-la.
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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain
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